Agosto 16, 2022

São atribuídos ao Período Mesolítico os montes calcários artificiais encontrados no litoral europeu, asiático e americano. Esses montes, chamados de kjokken-möddinger (lixo de cozinha) na Dinamarca e de sambaquis (em Tupi: tamba = concha, ki = monte), no Brasil, são formados por ossos de animais, chifres, utensílios primitivos e, especialmente, grande quantidade de conchas de mariscos. O exame pouco aprofundado dessas estruturas leva a crer que tratam-se de “amontoados de lixo pré-histórico”. De fato, por muito tempo se acreditou que os sambaquis seriam meramente registros de um “saneamento urbano” pré-histórico. Entretanto, desde o começo do séc. XXI, a pesquisa científica no Brasil desvendou aspectos mais profundos nos montes. Muitos dos sambaquis estudados apresentaram restos mortais humanos e presença de estruturas que sugerem uma finalidade arquitetural para rituais fúnebres. As descobertas recentes da arqueologia brasileira apontam que os materiais residuais associados aos restos fúnebres do Brasil arcaico não foram depositados aleatoriamente, mas, antes, o foram por possuírem importância simbólica, remetendo à fertilidade e à ressurreição, temas historicamente ligados à terra.
Todavia, a significação simbólica associada aos montes calcários não impede interpretações materialistas, ainda que não absolutizantes: os sambaquis eram pontos de concentração de material a ser afastado das moradias; tanto os mortos da tribo quanto os resíduos da alimentação eram removidos para locais próprios; permeia nisto os ideais do saneamento urbano que nós - que nos julgamos superiores e desenvolvidos - tentamos aplicar nas cidades de hoje.
Ver também: Destaques ambientais